O mundo se tornaria um exílio estéril sem as sete artes. Elas possuem papel fundamental no maravilhar-se com a vida, com a natureza e com as obras de arte que impactam a alma. A beleza está presente no mundo, e o ser humano se vê inclinado a procurá-la e desenvolvê-la cada vez mais.
Mas como se chegou à categorização das 7 artes? E quais são elas?
A história e o conceito das sete artes explicam essas questões e podem conduzir o homem a se aprofundar no sentido da vida.
Em 1923, Ricciotto Canudo, um intelectual italiano, publicou o “Manifesto das Sete Artes”. Este foi o ponto mais importante para definir quais são as sete artes clássicas: as principais artes do belo.
Antes da publicação do manifesto, diversos filósofos haviam já debatido sobre o tema, sem todavia encontrarem consenso.
A lista ainda é discutida, já que deixou de fora outras artes famosas e importantes. Alguns exemplos são: o teatro, a fotografia e o ilusionismo.
Canudo defendeu o cinema como uma das artes mais importantes e adicionou-a na lista das artes antigas feita pelo filósofo Hegel.
O argumento em defesa da concepção de Ricciotto e da linha classicista alega que, as artes não inscritas na lista, são na verdade junções das sete artes clássicas. O teatro, por exemplo, seria a combinação entre literatura, gravura, dança, música e pintura.
Embora o debate continue, a definição de Ricciotto é a mais famosa e a mais utilizada pelos intelectuais e artistas. Ele dividiu as artes do belo da seguinte maneira:
Atualmente, a ordem que possui maior consenso entre os estudiosos é diferente. O documentário “A Primeira Arte”, da Brasil Paralelo, explica uma das razões.
Devido à descoberta de que o ser humano, desde antes do nascimento, possui conexão com sons, melodias, e até mesmo músicas, a música foi posta em primeiro lugar.
A audição é o primeiro dos sentidos a se desenvolver por completo.
Dessa maneira, a ordem mais utilizada para listar as sete artes nos dias de hoje é a seguinte:
O que é arte? Seria a arte uma simples questão de gosto subjetivo? Qual o sentido das artes?
Uma das definições possíveis é que arte é uma obra humana cujo objetivo é aproximar as pessoas da beleza. A arte imprime no material o que o autor quer expressar.
Segundo Leonardo da Vinci:
“A lei suprema da arte é a representação do belo”.
A beleza mexe com a alma humana. Inúmeros conflitos, amores felizes e trágicos, ganâncias e atos generosos, são por ela causados.
Na lendária canção de Homero, a guerra de Tróia só existiu por causa da beleza. Páris não conseguiu se privar da beleza de Helena e a levou para o reino, gerando a guerra colossal que levou à destruição total de sua nação.
As sete artes do belo revelam diversos aspectos da realidade.
Devido a profundidade da vida humana e a incapacidade de observar tudo ao mesmo tempo, a percepção humana deve focar em uma coisa a cada momento.
Ao olhar para um corpo humano, não é possível estudá-lo totalmente de uma só vez, mas é necessário em um momento conhecer como funciona sua química, depois a biologia e em seguida a física.
Pode-se fazer uma analogia com a beleza.
Ela está fortemente presente na vida. Ao observar uma árvore, as casas de uma cidade, o abraço de uma mãe com o filho, o encontro de amigos e as formas e características dos animais, pode-se ver a beleza.
Curiosamente, cada tipo de arte possui um foco ao retratar a beleza ou a ausência dela. As sete artes retratam um aspecto diferente da realidade, permitindo que o homem se aprofunde nas inúmeras possibilidades da vida.
Dessa maneira, cada uma das sete artes é diferente da outra e apresenta ao seu admirador belezas inesgotáveis e irrepetíveis.
Um só ponto encerra possibilidades várias de vida, e belezas diversas escondidas.
Mesmo em breves resumos, é possível contemplar a grandeza de cada uma das artes:
A origem da palavra música é grega. A etimologia está em musiké téchne, que significa a arte das musas, divindades que cantavam as memórias do passado. A técnica da música consiste em arranjar sons em uma sucessão, intercalados com períodos de silêncio, por um determinado período.
Assim entendida, a música é uma linguagem, uma forma de comunicação. É uma linguagem tão real quanto a que se usa para conversar, mas que desta vai além.
Victor Hugo, grande dramaturgo, escreveu a definição de música da seguinte forma:
“A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio”.
A música tem poder de comunicação.
A audição percebe a combinação de elementos sonoros. Por essa razão, percebe características como a duração do som, sua altura, intensidade e timbre, que ocorrem em diferentes ritmos, melodias ou harmonias.
Uma das principais razões de a música tocar tanto os corações humanos é explicada pelo psicólogo Jordan Peterson. O psicólogo canadense afirma que na música, os sons, que sozinhos são aleatórios, em conjunto porém formam harmonia, gerando sentido a partir da matéria bruta.
A própria matéria se aproxima da beleza absoluta.
Isso é neurologicamente percebido, gerando um grande prazer no ser humano. O corpo e a alma, mesmo sem processo consciente da pessoa, extraem sentido da matéria. Assim, elabora-se uma analogia com a vida.
A música demonstra que os acontecimentos diários, embora por si possam parecer fortuitos, geram harmonia contudo na totalidade da vida quando se unem às outras experiências.
A dança é a expressão da beleza através do corpo humano. Seus movimentos trazem várias possibilidades com significados e objetivos diversos.
Quando cumpre os padrões da arte já expostos, ela alcança o nível de arte. Sem eles, é mera expressão sentimental ou modo de se divertir.
A dança como arte representa as emoções humanas ao mesmo tempo que lhe faz contemplar a beleza existente nos corpos, na vida humana.
A dança é uma arte, cujo estilo próprio pertence a cada cultura. Ela permite a apresentação da personalidade de uma nação, a apresentação das características de um povo.
Ela permite que o modo de ser de uma cultura seja representado e elevado até a beleza.
A pintura é uma das sete artes mais antigas. Cujo intuito não é apenas reproduzir o real, mas mostrar a realidade com determinado prisma escolhido pelo artista. A forma, neste caso, ganha especial realce, pois aqui ela irá influenciar diretamente o conteúdo.
A luminosidade, o relevo, o destaque de determinada forma, tudo isso altera a mensagem que o artista quer passar ou o que ele quer retratar.
Esta é uma das principais artes que permite o ser humano criar, pois, diferente da escultura, na pintura o homem pode moldar tanto os personagens quanto o seu entorno, o seu ambiente.
Um dos maiores destaques da pintura é que, assim como a escultura, a pintura consegue retratar algo da realidade, não no tempo, mas cristalizado no instante.
A pintura consegue trazer determinado sentimento ou fato quase que da eternidade.
A variedade de estilos desenvolvidos ao longo da história atesta sua grande riqueza.
A escultura busca representar uma pessoa ou imagem em 3 dimensões, com foco nos personagens. Desde a origem, que é aliás uma das mais antigas das sete artes, seu foco é retratar o corpo humano.
Os gregos do período clássico buscavam exprimir a perfeição do corpo humano, encontrar-lhe o perfeito equilíbrio e exaltar-lhe a grandeza.
Também é encontrada no povo hebreu quando o próprio Deus mandou fazer imagens de querubins na arca da aliança e no templo.
A escultura também foi e é muito utilizada para realizar homenagens.
Como ela é uma arte que exalta o personagem que se representa devido a sua imponência no ambiente e a representação apenas da figura, sem representar um ambiente, é própria para homenagens.
A arquitetura pode ser considerada uma das primeiras artes. Devido a necessidade de uma casa para se proteger do ambiente externo e ter o próprio espaço, essa é a primeira obra artística do ser humano.
Vitrúvio, em De architectura, define como núcleo da arquitetura o equilíbrio entre beleza (venustas), firmeza estrutural (firmitas), comodidade e função (utilitas).
Mesmo a arquitetura sendo uma necessidade que poderia ser resolvida de forma simplória, o homem impõe beleza e simbologia em seus edifícios e residências.
A arte da arquitetura é multidisciplinar. Além de ser necessário conhecimento em matemática, física, química, e diversas outras disciplinas naturais, também deve ser realizada pensando no significado que o autor deseja expressar.
Na arquitetura, o simbolismo é usado de maneiras diversas e para vários fins diferentes.
Em templos religiosos, para o contato com o transcendente; em prédios do governo, para expressar a glória e as características da nação; nos prédios dos bancos, para mostrar segurança e poder.
Cada obra possui um significado.
Os gregos construíam seus edifícios visando representar o belo, a perfeição da criação, usando a sequência de Fibonacci.
Suas principais construções eram os seus templos. Eles acreditavam que o deus homenageado habitava na construção. Dessa maneira, cada parte do templo possuía uma relação com o que o deus representava, tanto o aspecto natural, como o psicológico.
As catedrais góticas também ensinam e simbolizam algo em cada detalhe. Devido ao grande analfabetismo presente na Idade Média, os templos foram erigidos visando ensinar a fé aos mais simples.
Os vitrais eram literalmente lidos pelos camponeses. As colunas significavam os patriarcas e apóstolos que da terra se elevaram à Jerusalém Celeste, sustentando a aliança com Deus.
O presbitério e o altar são mais elevados para representar o monte Calvário, onde Cristo se sacrificou, possuindo muitos outros detalhes simbólicos.
Cada estilo arquitetônico é carregado de significado.
A arquitetura mostra que o ser humano é mais do que um animal, imprimindo intenção no que faz.
É a técnica de compor e expor textos escritos, em prosa ou em verso.
Cuja grandeza é incomensurável uma vez que se torna até mesmo sagrada em praticamente todas as culturas conhecidas.
Todas as civilizações possuem algum tipo de literatura como base de formação.
Os gregos possuíam a Ilíada, os hindus os textos védicos, os hebreus a Torá, os cristãos a Bíblia, os muçulmanos o Corão.
A grande importância da literatura está no fato dela tocar na substância da vida humana: a narrativa.
As pessoas gostam de histórias: romances, novelas, aventuras… todos contam uma história.
Quando alguém se torna fã de um artista ou de um personagem, é porque gostou de conhecer sua história, ou seja, suas ações ao longo do tempo, suas escolhas.
Em muitos casos, quem assiste pode identificar-se com o que vê, com a outra história. Pode imitar ações ou rejeitá-las.
A literatura também traz a possibilidade de conscientizar o leitor de realidades diversas da vida humana que ele não havia percebido. Ela expande a sua visão de mundo, possibilitando o desenvolvimento da própria história do leitor.
O cinema é, cronologicamente, a última das artes.
Foi criado aproximadamente no final do século XIX.
O cinema está entre as mais imersivas das sete artes. Ele consegue mexer com quase todos os sentidos humanos.
Possui a mesma essência da literatura, mas de forma mais vívida, concreta. Permite, além de incorporar a música com todas as suas qualidades, a contemplação de imagens verdadeiramente pictóricas, como quadros em movimento.
Essa união leva o admirador a contemplar todos os estágios de uma arte e se aproximar da beleza absoluta tanto quanto possível na existência concreta.
O cinema ainda possibilita um melhor conhecimento de várias áreas do saber, em conjunto com as suas outras vantagens. Cuja grande imersão auxilia a fixação do conteúdo das diversas ciências, como Filosofia, História e Geografia.
Segundo a filosofia clássica, a beleza é absoluta, objetiva. Existe antes dos homens e não depende deles para existir. É algo transcendental.
Platão considerava a beleza como um dos 3 transcendentais, as propriedades do ser consideradas como as mais superiores, essenciais e absolutas.
Santo Tomás de Aquino também defendia essa tese e foi ainda além.
Em suas demonstrações do mundo imaterial e da existência de Deus, demonstrou que a beleza é algo imaterial e absoluto.
Em sua demonstração, ele explicou o que pode ser resumido da seguinte maneira:
Vê-se que nos entes, nas coisas, umas são melhores que as outras, mais nobres ou mais belas que outras.
Percebe-se que as coisas possuem qualidades em graus diversos.
Alguém pode dizer que a Monalisa é mais bela que o Abaporu. Nessa proposição, há três termos: “Monalisa”, “Abaporu” e “bela”, e deste último a Monalisa participa mais, ou dele está mais próxima.
Dessa forma, percebe-se que existe a qualidade beleza e está fora e além das obras concretas, materiais.
Não se pode ver, tocar ou observar a beleza, mas é possível ver obras que são belas, que se aproximam da beleza de formas diferentes e em graus diferentes.
Por isso se diz que a beleza é imaterial.
Nessa perspectiva, Leonardo da Vinci afirmou:
“A mais nobre paixão humana é aquela que ama a imagem da beleza em vez da realidade material. O maior prazer está na contemplação”.
E só se pode dizer que alguma coisa é mais que outra com relação a certa perfeição, conforme sua maior proximidade, participação ou semelhança com o máximo dessa perfeição.
A conclusão dessa vertente é que deve existir a verdade absoluta, a beleza absoluta e o bem absoluto e transcendental.
Todas essas perfeições em grau máximo e absoluto coincidem em um único ser, porque, conforme diz Aristóteles, a verdade máxima é a máxima entidade. O bem máximo é também o ente máximo.
Essa proposição e todos seus outros desenvolvimentos levaram os filósofos clássicos à seguinte conclusão: a tarefa da beleza é levar as pessoas ao bem.
Platão afirmou que: “A força do bem refugiou-se na natureza do belo”.
A beleza é a representação visível do bem. Ela mostra que a realidade é boa.
O bem é a finalidade de toda ação humana. Tudo que uma pessoa faz é buscar o bem. Quando ela vai se alimentar, ela deseja o bem para o corpo. Quando vai trabalhar, ela busca o bem dos outros e o bem próprio no seu sustento. E assim são as demais ações e escolhas do homem.
Mesmo um suicida age dessa maneira. Ele está buscando se livrar do que ele considera um mal (a vida) e alcançar um bem (livrar-se do que lhe causa mal). Contudo, ele age de forma errada porque não avaliou adequadamente o que realmente é um bem e o que é um mal.
Assim, na linha dessa filosofia, a arte não é uma questão de gosto pessoal, embora exista certos aspectos subjetivos nela.
Para ser verdadeiramente uma obra de arte, ela deve fazer o ser humano alcançar a beleza absoluta e estar dentro do bem moral, deve auxiliar o ser humano a praticar e desejar praticar atos bons, a alcançar o bem.
Ou, deve apresentar o mal de maneira a ser repelido, e não desejado.
Assim como em outras coisas, pode-se ver nas artes um auxílio na busca do que é bom, esta que é a finalidade da vontade humana. A filosofia clássica bate de frente com a proposta moderna de arte pela arte.
As sete artes possuem todos esses elementos e muitos outros além, cada uma à sua maneira.
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