A entrevista começou com a apresentadora Fabíola Cidral pedindo para que Boulos se apresentasse. A conversa começou em tom descontraído, abrindo espaço para que o pré-candidato esclarecesse nomenclaturas atribuídas a ele.
Cidral citou o pedido de Guilherme Boulos aos pais de sair de uma escola privada para estudar em uma instituição pública. Perguntado se se sentia um privilegiado, Boulos respondeu que viveu os dois lados da cidade.
“Eu tive oportunidades na minha infância e na minha juventude que a maioria dos jovens de São Paulo não têm. Estudei em boas escolas, meus pais são professores da USP. Médicos do SUS até hoje, Aliás, devo muito a eles da minha escolha de vida, do ensino de valores de solidariedade de humanidade, mas pude conhecer e viver o que é ser classe média média alta na cidade de São Paulo. Tomei uma opção de vida, como você mencionou. Com 18 anos de idade saí da casa dos meus pais. Antes disso já tinha ido estudar em escola pública, terminei meu ensino médio na escola Fernão Dias e fui viver com os sem teto”.
Boulos foi então interrompido por Cidral. A jornalista perguntou se ele ele abriu mão de qualquer ajuda dos seus pais nessa época ou se continuou sendo financiado por eles.
Guilherme Boulos: No primeiro momento ainda me ajudaram, mas depois não. Eu fui trabalhar como professor antes de terminar a faculdade. Eu me formei em filosofia, que se tornou obrigatório no ensino médio. Não tinha professores suficientes e começaram a chamar os alunos do último ano. Aí eu comecei a dar aula no estado antes de terminar a faculdade e depois dei aula em várias instituições. Fui colunista da Folha, fui colunista da Carta Capital.
Fabíola Cidral: Você chegou a ser concursado nessa época?
Guilherme Boulos: Não, fui categoria Ó, isto é, a categoria de professores do estado que não tem os benefícios de um concursado, é um contrato temporário de professores.
Raquel Landim iniciou então as perguntas a respeito da eleição. A jornalista afirmou que o presidente Lula declarou que a disputa era “entre ele e a figura”, referindo-se a Jair Bolsonaro. Diante desse fato, questionou Boulos se o pleito de outubro é uma eleição nacional ou sobre a cidade de São Paulo.
“Essa é uma eleição sobre a cidade de São Paulo com impacto nacional como toda eleição municipal da maior cidade do Brasil”, afirmou o pré-candidato. “O que eu vou discutir com todos os paulistanos é porque São Paulo é a cidade mais rica da América Latina e a população de rua quase triplicou nos últimos três anos”.
Boulos prosseguiu afirmando que quer debater com o eleitorado questões como mobilidade urbana, saúde e também os gastos do executivo municipal, porém alegou ser inevitável que se discuta o âmbito nacional, devido ao nível de polarização em que o Brasil se encontra. O pré-candidato exemplificou citando o atual vice-prefeito da capital paulista.
“O atual prefeito botou um vice indicado pelo Jair Bolsonaro, que acha que a polícia tem que tratar diferente quem mora nos Jardins e quem mora na periferia. Pode parecer que é polarização ideológica, mas não. É também sobre a cidade. Se o Bruno Covas fosse aliado do Bolsonaro, imagine como teria sido o tratamento da pandemia na cidade de São Paulo? Como teria sido a vacinação na cidade de São Paulo? Bruno Covas foi contra o Bolsonaro e foi atacado pelo Bolsonaro. Por isso, quem era vice dele e que assumiu a cadeira, agora meu adversário nessa eleição, resolveu fechar uma aliança e vender a alma pro Bolsonaro”, declarou Boulos
Raquel Landim interpelou o psolista e insistiu na pergunta a respeito da cidade de São Paulo. A âncora da sabatina questionou a respeito das demandas do paulistano ao ir às urnas.
Boulos respondeu que o cidadão está preocupado com a cidade e é o que ele pretende discutir assim que a campanha começar.
“Daqui a três meses vocês vão se lembrar dessa conversa nossa. Quem vai investir na cidade. Quem se interessa em investir em polarização ideológica é o meu adversário, pois ele ficou três anos no cargo e não entregou nada. Qual é a marca desse Governo? Começar a fazer coisa na véspera de eleição”
O entrevistado foi novamente interrompido por Landim, que afirmou que Ricardo Nunes permanece à frente nas pesquisas. Boulous então replicou, alegando que Nunes está à frente porque está gastando 600 milhões em publicidade.
“Como o meu adversário não tem o que mostrar, ele vai vir numa linha de tentar me caracterizar daquilo que a Fabíola dizia. Boulous então replicou alegando que Nunes está à frente porque está gastando 600 milhões em publicidade. [Vai falar] de droga, aborto, pautas que não tem nada a ver com a cidade. [Ele] já começou a fazer isso nas suas declarações, nas suas entrevistas. Eu vou discutir a cidade de São Paulo”, declarou Boulos
Neste momento, a jornalista Carolina Linhares assumiu a palavra e questionou o deputado sobre porque eleitores menos escolarizados têm demonstrado preferência por Nunes em detrimento dele. O entrevistado minimizou a situação e afirmou que o eleitor que ganha até 2 salários mínimos em geral é o último a decidir em quem votar. O candidato ressaltou que está tranquilo quanto ao seu crescimento com esse público no decorrer da campanha.
“A maior parte do público de zero a dois salários mínimos, que está nas periferias sofrendo as consequências, não sabe que o Ricardo é apoiado pelo Bolsonaro, não sabe que eu sou apoiado pelo Lula, não conhece ainda o xadrez eleitoral de São Paulo e não conhece as propostas de cada um dos candidatos”.
Boulos se mostrou irritado com a insistência das jornalistas em questionar sua estratégia para passar Ricardo Nunes, que lidera as entrevistas de intenção de voto.
O entrevistado criticou a maneira como o atual governo está distribuindo o orçamento do município. Alegou que a gestão de Ricardo Nunes tem o maior gasto orçamentário da história da cidade de São Paulo. O professor de filosofia afirmou que hoje o orçamento é de R$112 bilhões e nãonão feitas entregas relevantes à população.
“Esse prefeito teve a chance e não fez. Ele está há mais de três anos na gestão estratégica. Começou a trabalhar na véspera de eleição e fazendo de forma mal feita sem planejamento e superfaturada”.
Boulos exemplificou relatando que após uma obra, regiões que nunca haviam inundado passaram a ter enchentes. Também falou sobre as obras na avenida Santo Amaro, que tinha o orçamento inicial de R$58 milhões e já gastou R$161 milhões.
Guilherme Boulos negou ter "passado pano" para o deputado André Janones, (Avante-MG) ao relatar o caso de suspeita de "rachadinha" no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Ele justificou sua decisão com base na jurisprudência do Conselho de Ética, que determina que um deputado só pode ser punido por crimes cometidos na mesma legislatura. Como as acusações contra Janones eram referentes ao período de 2019-2022, Boulos argumentou que ele não poderia ser penalizado no mandato atual.
No início de junho, Boulos votou pelo arquivamento do processo de cassação contra Janones.
Boulos destacou que não poderia adotar "dois pesos e duas medidas" e comparou a situação de Janones a do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também enfrentou investigações por desvios de salário quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. Segundo Boulos, a aplicação da regra do Conselho de Ética deve ser consistente, independentemente do parlamentar envolvido.
Fabíola Cidral questionou o político acerca da política de moradias na cidade, em especial pela relação de Boulos com a questão.
Sobre o assunto, ele afirmou que pretende cumprir o estatuto das cidades, uma lei federal que foi aprovada em 2001 e impõe que imóveis subutilizados sejam primeiramente notificados, podendo chegar a ser tomados pela prefeitura caso o proprietário não resolva a questão.
“Muitos daqueles prédios no centro, abandonados há 20, 30 anos, geram insegurança para quem passa, criminalidade, uso de drogas, insegurança. Não cumpriu função social? IPTU progressivo e a prefeitura pode tomar para fazer habitação de interesse social. É isso que nós vamos fazer em relação aos prédios abandonados”.
Grande defensor da pauta da segurança pública, Boulos foi questionado sobre o Coronel Alexandre Gasparian, que está trabalhando em sua pré-campanha. As jornalistas afirmaram que enquanto comandou a divisão Rondas Ostensivas de Tobias Aguiar (Rota), batalhão de choque da PM do estado de São Paulo, Gasparian teria se envolvido em uma chacina em Osasco e Barueri. Ele teria sido preso posteriormente. Segundo as âncoras da entrevista, tal relação representaria uma contradição por parte do político.
Boulos afirmou que Gasparian era um defensor da punição de policiais envolvidos em crimes e que no pouco tempo em que esteve no comando da Rota sempre batalhou por Direitos Humanos.
“[Quando] Gasparian teve sua primeira conversa comigo para entrar no nosso grupo de trabalho, a primeira coisa que ele disse para mim foi que resolveu me apoiar porque ele defende uma segurança baseada nos direitos humanos, uma segurança cidadã”.
Um ponto importante da sabatina foi a resposta do Boulos foi o questionamento a respeito de uma declaração de 2016, durante protesto organizado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) contra a gestão do então presidente Michel Temer (MDB). Na ocasião, a fachada da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) foi depredada. Na época, o candidato afirmou:
"A Fiesp defende a destruição do povo brasileiro. [...] Algumas vidraças quebradas não são nada perto do dano que a Fiesp faz para o povo trabalhador", disse ele na época. Questionado se seria capaz de realizar a afirmação novamente, agora, em fase de pré-campanha, Boulous disse que fez a afirmação no calor do momento:
"Eu continuo sendo contra a reforma trabalhista e contra a PEC do teto de gastos, que era o que estava em jogo naquele momento e naquela manifestação. Quando você está no calor... [...] Quando você está numa manifestação, ali com as pessoas, no calor da hora…"
O Psolista, porém, não respondeu com clareza.
A conversa terminou com Fabíola Cidral questionado o motivo pelo qual Boulos quer ser prefeito da maior cidade da América Latina. O político afirmou querer ajudar a capital paulista a mudar e oferecer mais oportunidades.
A imprensa nacional repercutiu a entrevista. A Folha publicou a fala do pré-candidato de que não se sustentará apenas em Lula durante sua campanha e suas críticas a Nunes Marques.
A agência Lupa, por sua vez, afirmou que Boulos exagerou sobre a dívida da cidade de São Paulo e a promessa do ex-prefeito João Dória para a Cracolândia.
Nos comentários do vídeo postado no canal oficial do jornal Folha de São Paulo no Youtube, internautas criticaram a postura das entrevistadoras durante a sabatina.
“VERGONHA UNS JORNALISTAS DESSES AGIR COM PARCIALIDADE”, afirmou @gabriel15483
“Mds olha a diferença de tratamento”, escreveu @caiohenrique496
“Diferença de tratamento e respeito em relação ao Pablo Marçal na última semana é nítida, isso que virou a imprensa brasileira”, declarou @rullyansahd
As notícias sobre a sabatina abordaram tanto a tentativa de dissociar Boulos de Lula quanto suas críticas exageradas a Nunes Marques pelos problemas atuais da capital paulista. Nas redes sociais, internautas destacaram que as jornalistas adotaram um tom supostamente mais ameno com Boulos em comparação com Pablo Marçal. Os próximos entrevistados serão José Luiz Datena e Ricardo Nunes.
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