Roma, acordou com uma agitação diferente. Após 38 dias enfrentando uma pneumonia bilateral, papa Francisco abriu as cortinas do quinto andar.
A multidão lá embaixo prendeu o fôlego. Ele apareceu no balcão, o rosto sulcado pelo tempo e pela doença, mas os olhos ainda carregavam uma luz quieta. O vento soprava leve, levando o som das orações para o céu.
No meio daquele mar de gente, uma mulher de 79 anos segurava rosas amarelas como quem protege um tesouro.
Carmela Mancuso, cabelo grisalho preso em um coque simples, erguia as flores com mãos que tremiam de emoção.
“Obrigado a todos. Vejo uma senhora com flores amarelas, brava!”, disse Francisco, a voz rouca cortando o ar.
Depois, ele seguiu para a Basílica de Santa Maria Maggiore. As rosas de Carmela encontraram repouso aos pés da Virgem Salus Populi Romani, como um pedido silencioso.
Décadas antes, em Monterosso, em uma vila escondida na Calábria, Carmela acordava cedo. O sol mal nascia, e ela já estava entre as carteiras de uma escola pequena, ensinando crianças de olhos curiosos.
Professora por anos, carregava cadernos e a fé com o mesmo cuidado. A vida trouxe perdas: os pais partiram, e um irmão, com deficiência grave, deixou um vazio.
Em 2017, aos 73 anos, ela guardou as chaves da casa, pegou um trem e cruzou o país até Roma. Monteverde virou seu lar, e o Papa, seu farol.
Carmela passou a frequentar as audiências de Francisco, sempre com flores nas mãos. Esse hábito nasceu numa tarde abafada, no Bambino Gesù, hospital pediátrico romano. Ela estava com uma amiga, cuja sobrinha de três meses enfrentava uma cirurgia delicada.
Enquanto a Coroa da Divina Misericórdia ecoava no corredor, Carmela saiu em silêncio. Voltou com flores colhidas de um jardim próximo.
A criança sobreviveu. “As flores são uma terapia”, ela diz.
“Acompanham minhas orações pelos doentes”.
Quando Francisco entrou no Gemelli, Carmela pegou o trem de Monteverde pelo menos 12 vezes. Rosas amarelas em punho, ela ficava na praça, olhando as janelas brancas.
O papa já a conhecia. Num dia na Praça São Pedro, ele perguntou: “Carmelina, e as flores?” Ela riu, prometendo nunca esquecer.
Naquele 23 de março, o sol aquecia a fachada do hospital. Francisco apontou para ela entre milhares.
Não sei o que dizer. Obrigada, obrigada, obrigada, ao Senhor e ao Santo Padre”, disse Carmela aos jornalistas, com os olhos cheios d’água. Não esperava ser vista. As rosas nas mãos dela falaram por si.
Imagine uma mulher de 79 anos, sozinha na multidão, com flores que contam uma vida. Imagine um Papa, fragilizado, que para e olha para ela.
Enquanto o mundo corre, Carmela planta sementes de fé. Francisco viu o que muitos deixam passar. E as rosas amarelas seguem contando essa história.
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