Psicologia em Divertida Mente: O que podemos aprender com o filme?

A alegria estimula a repetição das boas atitudes. A raiva coloca a protagonista em posição de ataque para defender o que lhe parece importante. A tristeza a deixa mais vulnerável e hostil às outras pessoas. O medo a protege dos perigos, assim como o nojo, que, no filme, impede que Ryle se envenene.

Essas emoções formam divertidos personagens, que interagem entre si na sala de comando dos sentimentos, que fica dentro da mente da protagonista. Os roteiristas até pensaram em fazer as emoções fora de Riley, conversando com ela como se fossem um anjinho ou um diabinho sobre os ombros, mas a ideia foi descartada.

Alegria é a líder da sala de comando e das outras emoções. Nesse contexto, o que percebemos é que as pessoas têm afetos predominantes. No caso da mãe de Riley, o filme mostra que a tristeza está no comando das outras emoções. Já no caso do pai, é a raiva.

Mesmo que um sentimento seja o predominante e apareça mais tempo, todos os outros estão lá se relacionando e influenciando constantemente. No caso de Riley, a alegria tenta dominar todos os momentos, excluindo a tristeza. A tentativa de suprimir uma emoção causa muitos problemas ao longo da narrativa. O que não é diferente em Divertida Mente 2.

Outro aspecto que fica claro é que não escolhemos qual emoção sentir. Muitas vezes elas são instintivas. De repente, uma das emoções aperta um botão e todo o comportamento se altera. 

E quando as experiências são muito intensas, é formada uma memória-base, que passa a integrar a parte mais profunda da vida afetiva da protagonista.

Os momentos da vida são fixados na memória já vinculados a algum afeto, podendo se tornar uma memória de longo prazo. A partir das memórias-base, formam-se as ilhas da personalidade.

As principais ilhas da Riley de 11 anos são: Família, Amizade, Diversão (a bobeira) e Esporte (o hóquei). Assim que uma experiência faz referência a um desses afetos enraizados em sua vida íntima, a memória afetiva é atualizada.

A crise surge exatamente quando a ligação da memória com essas ilhas da personalidade é rompida por causa de experiências traumáticas. A consequência é o apagamento e o esvaziamento da identidade da menina. Riley precisava da tristeza para vencer suas dificuldades, mas a personagem Tristeza estava sendo constantemente afastada pela Alegria. 

Juntas, as duas se aventuram nas profundezas da alma de Riley. Estavam tentando recuperar as memórias-base, ligação entre as emoções do passado e os vínculos biográficos. As emoções estavam tentando melhorar a percepção de Riley sobre o presente, mas ao deixarem a sala de comando privam a protagonista de dois dos seus sentimentos essenciais. A menina entra então em um tipo de apatia.

Somente o medo, a raiva e o nojo passam a comandar os sentimentos da menina em crise. Simbolicamente, é representado um quadro típico de um pré-adolescente em transição. Podemos notar apatia e assombro diante das rápidas transformações que ainda não são entendidas e assimiladas.

De fora para dentro

O título Original de Divertida Mente é Inside Out, que significa “de fora para dentro e de dentro para fora”. É uma dinâmica de mão dupla. O diálogo das emoções interiores conduz a novas formas de ver o mundo, e novas formas de ver o mundo conduzem a novas emoções. 

De acordo com a teoria de Ekman, no livro Emotions Revealed, é como se houvesse um protocolo padrão de comportamento para cada emoção. Na vida cheia de mudanças de Riley, a percepção da alegria atual não é a mesma das lembranças das alegrias passadas. 

O que antes era uma lembrança alegre acaba sendo neutralizada pela tristeza. Nisso pode ser visto uma intuição psicológica primordial: a dimensão subjetiva da experiência de cada um. Cada personagem-símbolo de uma emoção tem o poder de tocar uma memória e alterar sua percepção. 

Na tristeza, os momentos alegres que já foram vividos perdem a cor quente, o brilho. Nem parecem que foram tão alegres assim. O mesmo acontece se for o contrário. Os momentos frustrantes da vida podem ser vistos como etapas desafiadoras e crescimento pessoal, se forem vistos pelo olhar da alegria.  

Quando Riley vê seu quarto na nova casa, ela passa pela tristeza e pela alegria, mudando o modo subjetivo de receber o que está acontecendo objetivamente na realidade. 

Na parte mais obscura e inconsciente de Riley, as personagens Alegria e Tristeza enfrentam um desafio, a desconstrução de algumas ligações afetivas. À medida que a protagonista cresce, algumas marcas de sua personalidade deixam de ter a mesma importância. 

Depois, outras características surgem, até em número maior do que as anteriores que foram desconstruídas. No fim o papel da tristeza foi fundamental para que Riley percebesse que não estava bem e que precisava pedir ajuda aos pais.

Na pré-adolescência, ela enfrenta a solidão da comunicação virtual, falta de diálogo com os pais e a hostilidade dos grupos diferentes que compõem uma grande cidade moderna. No final do filme 1, há uma troca do controle da sala de comando, que tem o botão puberdade. É justamente essa a fase da vida de Riley abordada em Divertida Mente 2, que está em cartaz.

O que esperar de Divertida Mente 2

O destaque do segundo filme é a personagem ansiedade, que no Brasil foi dublada pela atriz e comediante Tatá Werneck. Vista como vilã por muitos, é tratada como algo que tem seu valor se está na mente humana na medida certa. 

A psicóloga Graziele Farias afirma em um artigo que a ansiedade prepara o ser humano para desafios, alerta para perigos e ajuda a aliviar perdas. 

A profissional alerta que quando o corpo humano sente ansiedade existem alterações  fisiológicas, como aumento da frequência cardíaca, respiração acelerada e tensão muscular. É uma resposta do organismo a uma ameaça iminente. Quem já assistiu ao filme concorda. Para Henrique Galvão, jornalista responsável pela curadoria de filmes da Brasil Paralelo:

“A intenção dela é boa, mas sem freio, ela se torna a louca da casa”, referindo-se à ansiedade.