Padre Fábio de Melo revela depressão e expõe a vulnerabilidade por trás da fama

Pessoas que têm tudo, mas perdem o sentido de viver

A situação do padre Fábio de Melo é comum entre famosos. Um deles é o ator Jim Carrey. Em 2004, o astro de filmes como “O Show de Truman” e “Ace Ventura” revelou ter passado grande parte de sua vida enfrentando a depressão. 

Após dois casamentos fracassados, Carrey se viu sem sentido na vida e procurou a ajuda de um psiquiatra.

"Eu tomei antidepressivos por um tempo e, olha, eles até me ajudaram a passar por uma fase complicada. Mas chegou uma hora que eu tive que parar porque percebi que minha vida estava sempre na mesma, sabe? Parecia aquele desânimo constante que nunca vai embora".

Agora, Jim trata a depressão com terapia. Em suas palavras, precisa lembrar todos os dias que a vida vale a pena. Também mudou a alimentação e os hábitos de vida. Segundo ele, isso ajudou a controlar a doença. 

Padre Fábio acredita que o foi justamente o estilo de vida que levava que contribuiu para os sintomas da depressão. 

Em 2018, ele disse a Ricardo Cabrini: 

“Eu cheguei a fazer 25 shows por mês, o que era desnecessário. Às vezes, justificamos isso dizendo que as cidades nos querem, e fizemos muitos shows em praças públicas, evangelizando e levando essa nova forma de partilhar. Era como ser escravo do próprio sucesso, não tenho dúvidas disso".

Além disso, a morte da irmã provocou nele um imenso sentimento de culpa que piorou seu quadro. Cida tirou a própria vida em setembro de 2017, após sofrer da mesma doença. 

Padre Fábio não comentou o novo episódio depressivo após o show do último sábado. Casos como o dele e de Jim Carrey são cada dia mais comuns. O crescimento de casos como os dos dois artistas  fez com que a ONU, em 2017, passasse a considerar a depressão o mal do século.

Por que isso está acontecendo? Para achar as respostas, a Brasil Paralelo decidiu reunir especialistas em saúde mental de todo o mundo. 

O resultado está no original A Fantástica Fábrica de Sanidade, a maior investigação brasileira sobre transtornos mentais e indústria farmacêutica. 

Assista ao trailer oficial. 

Por que alguém tem depressão? 

As causas da depressão geram debate entre psiquiatras, especialmente após 2022. Naquele ano, pesquisadores da University College London desafiaram a ideia de que a doença resulta apenas de um desequilíbrio químico. 

Eles fizeram um teste:

1. reduziram a quantidade serotonina no organismo de algumas pessoas;
2. observaram outras com depressão, mas sem alterações nos níveis de serotonina. 

No final, concluíram que a redução do hormônio não causou depressão nas pessoas. Enquanto isso, as pessoas com serotonina normal ainda estavam deprimidas.

Para os pesquisadores, isso desfaz a ideia de que só os antidepressivos resolvem a questão. Eles entendem que reduzir a causa da depressão à baixa serotonina no cérebro ignora fatores externos como um luto ou algum tipo de estresse podem ser a causa. 

Entretanto, grande parte dos especialistas continuam defendendo que uma das principais causas da depressão é o baixo nível de serotonina no cérebro, somado à predisposição genética. 

O psiquiatra Evaristo Barbi explica que, embora problemas possam desencadear depressão, sua importância é relativamente baixa: 

“A genética é responsável por cerca de 24 a 25% dos casos de depressão. Fatores negativos externos, como perdas de emprego ou de um ente querido contribuem com aproximadamente 14 a 15%”.

Evaristo Barbi destacou que indivíduos com irmãos diagnosticados com depressão possuem um risco três vezes maior de desenvolver a mesma condição do que a população geral.

Foi o que aconteceu com o padre Fábio de Melo, que tinha uma irmã com a mesma doença. 

Existem graus de depressão

A depressão tem diferentes níveis. Alguns pacientes podem apenas apresentar apatia leve, enquanto outros podem evoluir até mesmo para surtos psicóticos. Alguns sintomas são: 

• Humor deprimido e alterações emocionais: Tristeza constante, redução do prazer em atividades, apatia e pouca reação às situações.
• Sintomas físicos: Falta de energia, lentidão, cansaço constante, alterações no sono e apetite, podendo causar ganho ou perda de peso.
• Desempenho cognitivo: Problemas de memória, dificuldade de concentração e insegurança na tomada de decisões.
• Pensamentos negativos: Dificuldade em perceber aspectos positivos do cotidiano.

É possível prevenir a depressão

Evaristo Barbi aponta que a melhor forma de prevenir o estresse é tentar ser e fazer a vida mais feliz. Segundo o hospital Albert Einstein, é possível prevenir a doença com estratégias como:

• Fortalecer conexões sociais: Mantenha-se próximo de familiares e amigos para evitar sentimentos de tristeza;
• Gerenciar o estresse: Utilize meditação, técnicas de relaxamento e resolução de problemas para lidar melhor com os desafios diários;
• Adotar um estilo de vida saudável: Pratique exercícios regularmente, coma de forma equilibrada e mantenha um bom padrão de sono;
• Agir rapidamente diante de problemas: Identifique e trate questões de saúde mental cedo para prevenir o agravamento da depressão.

O tratamento da depressão pode envolver:

• Terapia psicológica: Terapia cognitivo-comportamental (TCC).
• Medicamentos: Uso de antidepressivos prescritos por um médico.
• Autocuidado: Prática regular de exercícios, alimentação saudável e gerenciamento do estresse.
• Apoio social: Importância da participação de familiares e amigos na recuperação.

Relatos de diversos pacientes confirmam que desenvolver a vida espiritual também pode ser importante para lidar com o problema. 

A depressão é doença séria e que cada caso precisa ser analisado individualmente através de um tratamento multidisciplinar. 

Para aqueles que não se sentem à vontade para buscar uma unidade de saúde, o Centro de Valorização da Vida oferece apoio.

A associação sem fins lucrativos oferece apoio emocional gratuito pelo telefone 188 e pelo site da organização.