O cenário eleitoral polarizado de 2018 está se repetindo em 2022. Dessa vez, lideram a disputa o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Veja as previsões das principais pesquisas eleitorais para 2022.
Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, segue um resumo aproximado de como são feitas algumas pesquisas:
Esses pontos não excluem intervenções arbitrárias em pesquisas. O cenário ideal considera fidelidade aos resultados e à pesquisa em si. Atualmente, as pesquisas levantam dúvidas quanto a sua confiabilidade.
Um dos pontos que levantam um sinal de alerta para analistas políticos hoje envolve os perfis das amostragens das pesquisas. Informações como: renda salarial, idade, sexo e religião são levadas em conta nas pesquisas.
Os institutos de pesquisa têm usado critérios diferentes para definir o perfil dos entrevistados.
Na pesquisa do Ipec, 57% da população recebe de 0 a 2 salários mínimos. Enquanto na da Quaest, o número cai para 38%. Nenhum dos valores conversa com o último censo do IBGE, em 2010.
Os dados que estipulam os perfis das amostragens não conversam entre si. Alguns institutos usam o censo de 2010 de referência, outros usam dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2021 e há casos em que nenhum desses bancos de dados são utilizados.
Um dos grupos com os votos mais disputados nessas eleições são os evangélicos. Em algumas pesquisas, eles são considerados 25% da população, enquanto outras colocam como 31% ou até 36%.
A imprecisão dos dados aumenta a desconfiança nos resultados.
Confira no gráfico abaixo a diferença entre as pesquisas e os resultados das eleições dos últimos anos no Brasil:
Nas eleições de 2018, a 1 dia da votação, as pesquisas apontavam diferenças de 10 pontos percentuais para o resultado final.
Sobre o uso de pesquisas manipuladas, confira o último tópico desta matéria: Janela de Overton e as pesquisas eleitorais.
Neste ano, vários institutos já divulgaram seus resultados.
Em janeiro de 2022, a pesquisa Genial/Quaest apresentou o seguinte resultado:
Passados 7 meses, alguns candidatos abandonaram a disputa e os resultados mudaram. A pesquisa Correio/Opinião apresentou os seguintes resultados para o Distrito Federal no dia 23/08:
No dia 05/09 saiu uma nova pesquisa da Correio/Opinião para o Distrito Federal, que apontou:
Ainda de acordo com esta pesquisa, Lula perde em todos os cenários de 2º turno.
No dia 8 de setembro, saiu a pesquisa da Modalmais/Futura:
Um dia depois, a pesquisa do Datafolha apresentou resultados distintos:
No dia 14, duas pesquisas marcaram a vantagem de Lula ao mesmo tempo que uma delas apontou um crescimento dos números de Bolsonaro:
O Instituto Paraná Pesquisas trouxe resultados que reduziram a diferença entre Lula e Bolsonaro em uma pesquisa no dia 20/09:
A diferença entre Lula e Bolsonaro manteve-se oscilando entre 7 e 10 pontos percentuais nas pesquisas mais recentes. No dia 21:
A poucos dias das eleições, a disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva segue intensa. As pesquisas mostram diferentes cenários e resultados que não se comunicam.
Com resultados de pesquisas tão díspares, uma discussão costuma surgir: como os resultados podem influenciar a opinião pública?
Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira.
Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.
A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias. Até que ponto as pesquisas não servem como as esquadrias e batentes de uma janela?
As etapas de uma ideia na Janela de Overton são:
O conceito foi criado por Joseph P. Overton, para analisar fenômenos de segurança pública. Sua ideia pode ser aplicada a múltiplos cenários sociais.
As pesquisas podem criar a aceitação de cenários que parecem improváveis.
O Brasil conta com uma população de cerca de 215 milhões de habitantes, conforme o censo do IBGE de 2022. Em todo o Brasil, são 5.568 municípios. Enquanto as amostragens contemplam no máximo 3000 pessoas e 200 municípios.
O jornalista Cláudio Dantas do jornal O Antagonista, apurando diferentes resultados de pesquisa, questionou: “qual é a justificativa técnica para essa diferença?”, Dantas vai além: “isso aí virou uma ferramenta eleitoral, de manipulação da opinião pública”.
As pesquisas determinam os rumos das campanhas eleitorais, da opinião compartilhada nos meios de comunicação, tudo isto interfere nos rumos das eleições.
O Tribunal Superior Eleitoral está investigando o crescente número de pesquisas que surgem ao redor do país. Muitos institutos levantam recursos próprios para obter dados, o que pode interferir na lisura do processo.
Segundo dados do próprio TSE, 3.499 pesquisas que seguem esse padrão foram registradas neste ano - 174% a mais na comparação com o mesmo período em 2016 (1.279).
Segundo o jornal O Globo:
“O Ipop Cidades & Negócios lidera o segmento. Em oito meses, investiu R$ 650 mil em 350 pesquisas, em 192 cidades — todas praticamente com o mesmo custo, de R$ 2 mil, independentemente do tamanho da amostra e do local”.
Pesquisas podem realmente demonstrar o que uma amostragem considera sobre o cenário pesquisado, como também podem induzir um grupo a partir da divulgação de resultados alterados.
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