Com o objetivo de reverter sua queda de aprovação popular, Lula iniciou uma reforma ministerial na última terça-feira, 25 de fevereiro.
O primeiro alvo foi a ministra da Saúde, Nísia Trindade, substituída à frente da pasta pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha. Além de médico, ele já havia ocupado o cargo durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Nísia deixa um dos mais importantes ministérios do governo, com orçamento de R$ 239,7 bilhões anuais e à frente de programas importantes como o Farmácia Popular.
O Palácio do Planalto confirmou a substituição:
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta terça-feira, 25 de fevereiro, com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Na ocasião, comunicou a ela a substituição na titularidade da pasta, que passará a ser ocupada pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a partir da posse marcada para a quinta-feira, dia 6 de março".
A nota do órgão enfatizou que Lula "agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério".
Alexandre Padilha iniciará em 6 de março. Ainda não se sabe quem será o substituto de Padilha no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O órgão é responsável pela articulação entre o Executivo e o Congresso.
Na manhã de terça-feira, a ministra participou de um evento ao lado de Lula para anunciar o acordo com o Instituto Butantan de produzir 60 milhões de doses da vacina contra a dengue por ano.
Durante a cerimônia, foi aplaudida pela plateia. Lula não discursou e também silenciou ao ser questionado diretamente sobre uma possível demissão.
Apesar do silêncio, a troca de ministérios era esperada há algumas semanas.
O governo tem se empenhado em reverter sua baixa popularidade. De acordo com o último levantamento da Genial/Quaest, divulgado hoje, 25 de fevereiro, o presidente tem reprovação acima de 50% em oito estados brasileiros bastante importantes: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Paraná, São Paulo e Goiás.
Padilha confirmou ter aceitado com “muita honra essa nova missão” e destacou que seu foco será “fortalecer o SUS”. Em sua conta no X o ministro disse:
“Fortalecer o SUS continuará sendo a nossa grande causa, com atenção especial para a redução do tempo de espera de quem busca cuidado na rede de saúde. Esse é o comando que recebi do presidente Lula e ao qual vou me dedicar integralmente”.
Padilha elogiou o trabalho de Nísia, por quem disse sentir um profundo carinho e respeito. Segundo ele, a ex-ministra é um “símbolo de compromisso e seriedade à frente da Fiocruz e do Ministério da Saúde”. Também enfatizou que o legado deixado por ela é de “reconstrução do SUS, após anos de gestões negacionistas, que nos custaram centenas de milhares de vidas”.
No último dia 21 de fevereiro, a ministra afirmou que seguia “firme” com o trabalho e minimizou os rumores de demissão.
Na ocasião, Lula já analisava a possibilidade de fazer reformas ministeriais no Executivo. Os resultados negativos do levantamento da Quest apenas confirmaram o
A decisão da demissão partiu da conclusão de que Nísia não conseguiu entregar os projetos que seriam a vitrine do ministério no governo Lula 3.
Desde o ano passado, Nísia Trindade vinha acumulando uma série de críticas a sua gestão na pasta da Saúde, como a explosão de casos de dengue e vacinas vencidas. Sua equipe também era acusada de desvio de emendas.
Além do programa Mais Acesso a Especialistas, que não foi entregue, Nísia também atrasou as compras de vacinas contra a Covid-19 em 2024.
Segundo veículos de mídia, Lula destacava a necessidade de acelerar o andamento deste programa, como uma das estratégias para aumentar sua baixa popularidade.
Entendido como burocrático e de pouco apelo junto ao público, o nome do programa está prestes a ser alterado.
Além disso, o governo acredita que colocar um novo nome no ministério de Relações Institucionais pode ajudar a melhorar a relação com o Congresso Nacional, ajudando o governo a aprovar pautas prioritárias.
Outra polêmica enfrentada por Trindade à frente do ministério foi uma nota técnica pró-aborto. Em fevereiro de 2024, o ministério derrubou um veto do governo Bolsonaro ao impedimento da realização de aborto após 21 semanas e 6 dias de gestação.
No documento, constava que o órgão tinha "o dever de garantir esse direito de forma segura, íntegra e digna, oferecendo devido cuidado às pessoas que buscam o acesso a esses serviços".
Segundo o documento, o aborto poderia ser realizado a qualquer momento em caso de estupro.
O resultado foi uma forte repercussão negativa para o governo e o ministério da Saúde, o que levou a pasta a revogar o documento.
Outro ponto que enfraqueceu a gestão de Nísia foi a explosão de casos de dengue em 2024. O Brasil registrou 6.068 mortes por dengue em 2024, número que ultrapassou os óbitos causados pela Covid-19 no mesmo período, que somaram 5.959.
Até o momento, não há vacinas suficientes para imunizar a população. O governo deixou vencer 58,7 milhões de vacinas desde o início do Lula 3.
O desperdício representou um gasto de R$ 1,75 bilhão, enquanto a população questionava a falta de imunizantes suficientes.
Além disso, o ministério também precisou lidar com problemas na distribuição de vacinas. Um abaixo-assinado organizado em abril de 2024 reuniu mais de 2 mil assinaturas de médicos e representantes da sociedade civil para pedir a compra de imunizantes atualizados contra a Covid-19.
A aquisição e distribuição de vacinas era uma das bandeiras da campanha de Lula em 2022. O petista criticou em inúmeras ocasiões o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo atraso na compra de imunizantes durante a pandemia.
O ministério também enfrentou acusações de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – presidida por ela entre 2017 e 2022 – teria utilizado verbas destinadas a programas da saúde indígena para custear viagens de um pesquisador.
O dinheiro de um contrato firmado entre o Ministério da Saúde e a Fiocruz foi usado para bancar viagens a Portugal, França e Estados Unidos.
Em resposta, a Fiocruz respondeu que as viagens foram realizadas pelo coordenador do projeto e pesquisador da Fiocruz, Guilherme Franco Netto, ao longo de 2022 e 2023, no âmbito da cooperação técnica que a Fiocruz mantém com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, e com a Universidade de Paris 8, na França.
Nísia Trindade Lima é uma renomada cientista e pesquisadora brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 17 de janeiro de 1958.
Doutorado em Sociologia e mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iesp), é graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Ela é reconhecida como pesquisadora de produtividade de nível superior pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Sua trajetória ganhou destaque ao se tornar a primeira mulher a presidir a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2017. Mais tarde, em 2023, foi nomeada ministra da Saúde pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo.
Durante sua gestão, implementou iniciativas como o Programa Brasil Saudável e ampliou o uso de telemedicina no SUS. Além disso, inclui acordos para a produção de vacinas no Brasil.
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