A escola de samba Paraíso do Tuiuti fez um desfile em homenagem à Xica Manicongo, a primeira travesti negra registrada na história do Brasil.
Xica era um sacerdote quimbanda, uma vertente da Umbanda, que foi trazida ao Brasil como escrava no século XVI.
Em 1591, ele foi denunciado pelo crime de sodomia e feitisaria para o Tribunal do Santo Ofício, a corte utilizava as leis e jurisprudências da Igreja para combater práticas contrárias à fé católica.
Xica fez um acordo com a corte para começar a usar apenas roupas masculinas e começar a responder pelo nome de Francisco.
Para o carnavalesco Jack Vasconcelos, um dos responsáveis pelo desfile, o enredo seria “o maior manifesto que a gente pode mostrar na avenida”.
Ele conta que o desfile misturou a história de Xica Manicongo com elementos da religiosidade africana:
“A gente faz um pulo histórico, ela transcende para o mundo espiritual, onde ela é pombagira e ela vai para a rua junto com as outras entidades e elas sopram o pajubá no ouvido delas para elas se defenderem.”
Além disso, a escola teria buscado trazer a trama histórica para a atualidade, retratando Manicongo como uma espécie de padroeira do movimento trans brasileiro:
“Fechamos o enredo mostrando a Xica Manicongo como uma ‘trancentral’ que continua protegendo e orientando as mulheres trans e travestis nessa luta.”
O samba enredo da escola conta com partes polêmicas, como: “a bicha, invertida e vulgar, a voz que calou o ‘cis tema’, a bruxa do conservador”.
O jornalista Alexandre Borges, do O Antagonista, afirmou que esses trechos “demonstram a intenção da escola de usar o desfile como plataforma para polarização política e acusações que demonizam espantalhos ideológicos criados pela esquerda”.
A Paraíso do Tuiutí já abordou questões políticas em outros anos, como em 2018, quanto retratou Michel Temer como um vampiro e criticou as reformas de seu governo.
Uma série de políticos e ativistas trans foram convidados a desfilar nos carros alegóricos da Paraíso do Tuiuti.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL) participou do desfile e fez um discurso durante o evento:
“O Carnaval também é uma festa de resistência, de luta, de ousadia, de denúncia. E poder pisar nessa avenida, levando a memória, a dor e a história de Xica Manicongo é algo que enche o nosso coração de esperança, de que é possível sim construir um Carnaval, uma sociedade, um espaço de cultura cada vez mais democrático, diverso, popular e, por que não, travesti”
Ela fez parte da comissão de frente da escola, que contou apenas com a presença de mulheres trans.
Em uma publicação no X em que a deputada divulgou um trecho de seu discurso, ela escreveu “quem tem medo de Xica Manicongo? Quem tem medo de travesti?”
A escola afirmou que vai criar uma ala permanente de mulheres trans, que deverão desfilar em todos os próximos Carnavais.
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