Ao contrário da posição defendida pelo Itamaraty, ontem, no Foro de São Paulo, o PT assinou uma conferência que reúne partidos e organizações de esquerda da América Latina e do Caribe.
Antes da posse de Cláudia Sheinbaum como presidente do México, em 2 de outubro, os países integrantes do Foro se reuniram e desenvolveram a resolução.
De acordo com fontes do partido, o PT optou por não divulgar a assinatura do documento para evitar desgastes em sua imagem às vésperas das eleições municipais. A secretária executiva do Foro, Mônica Valente, é filiada à legenda.
A Brasil Paralelo procurou o PT para questionar a assinatura da resolução, mas até o fechamento desta reportagem não recebeu retorno.
Há meses, a Executiva Nacional do partido saudou Maduro pela vitória na eleição venezuelana, ao contrário do Itamaraty, que não reconheceu a vitória do atual presidente nem do candidato de oposição, Edmundo González Urrutia.
A eleição de Nicolás Maduro tem sido questionada pela comunidade internacional.
Estados Unidos, Argentina, Uruguai e União Europeia não reconhecem o resultado aclamado por Maduro. No dia 30 de julho, a Organização dos Estados Americanos acompanhou a posição. O relatório da OEA enfatizou que o regime venezuelano aplicou "seu esquema repressivo" para "distorcer completamente o resultado eleitoral".
"Ao longo de todo este processo eleitoral assistimos à aplicação por parte do regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações".
A Organização das Nações Unidas também publicou um relatório criticando as eleições. Ontem, eles publicaram um novo relatório que cita uma série de crimes contra a humanidade cometidos contra a ditadura de Maduro, entre os quais:
O reconhecimento da eleição de Maduro causou controvérsias entre parlamentares. Políticos do próprio PT discordaram. Em entrevista à CNN, o deputado Reginaldo Lopes (PT/MG) afirmou que “a posição do PT sobre Venezuela é desconectada com o que pensa Lula e a grande maioria dos simpatizantes do partido". Somos um partido conectado com a democracia. A posição de Maduro gera um constrangimento para a democracia na América Latina”.
Deputado de oposição, Marcel Van Hattem (NOVO/RS) discorda. Em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo, enfatizou que “a posição do Partido dos Trabalhadores reflete uma clara defesa de regimes autoritários em nome da “solidariedade ideológica, revelando também o alinhamento do partido a governos que desprezam liberdades individuais:
“Ao endossar um governo marcado pela repressão que silencia vozes dissidentes, o PT escancara sua hipocrisia, o que não é novidade porque já o fez por diversas vezes, compactuando com ditaduras que sufocam a liberdade e o pensamento crítico. Distancia-se dos valores democráticos, normaliza a opressão, a perseguição política e a censura, como também vem fazendo aqui no Brasil.”.
A Brasil Paralelo procurou alguns parlamentares da base governista, como o deputado e candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), mas até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.
Lula é aliado histórico do chavismo.
No início de seu terceiro mandato, buscou restabelecer as relações com a Venezuela e ajudar o país a retomar o diálogo internacional, apesar das inúmeras polêmicas em relação ao governo de Maduro.
Ele reabriu a embaixada em Caracas, fechada por Jair Bolsonaro, e recebeu Maduro com honras em Brasília.
o presidente foi criticado por afirmar que as acusações de autoritarismo contra Maduro eram uma "narrativa" a ser combatida:
“Eu vou em lugares que as pessoas nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabe que a Venezuela tem problema na democracia. É preciso que você construa a sua narrativa e eu acho que, por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a que eles têm contado contra você”.
Apesar do tom amigável em público, o governo brasileiro estava atento às eleições presidenciais venezuelanas, vistas como um teste para Maduro. Chegou a enviar tropas para a região de fronteira.
A postura do Brasil começou a mudar em março, quando líderes oposicionistas foram impedidos de participar das eleições na Venezuela. Lula classificou a situação como "grave", e o Itamaraty expressou preocupação, sinalizando uma mudança na relação com Maduro. O governo venezuelano criticou a posição brasileira, comparando-a à dos EUA.
Lula declarou publicamente a necessidade de eleições respeitadas e enviou Celso Amorim para acompanhar o processo eleitoral. O resultado, que declarou Maduro vencedor, foi contestado pela oposição e reconhecido por China e Rússia, mas não pelos EUA. O Brasil, junto com Colômbia e México, pediu transparência nos resultados.
Na ocasião, Lula voltou a afirmar que não iria reconhecer nem Maduro nem o candidato de oposição.
Na época, o ministro das Relações Exteriores e Celso Amorim chegou a ser convidado para ir ao Congresso explicar a posição do Brasil sobre o regime de Maduro.
O chavismo, inspirado por Simón Bolívar, busca implementar o "socialismo do século 21" na Venezuela, promovendo a integração regional da América Latina em oposição a alianças com potências como os EUA e países europeus. O presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) mantêm um histórico alinhamento com o chavismo, fortalecido durante a "onda rosa" dos anos 2000, quando ambos os governos faziam parte de uma série de administrações progressistas na América do Sul.
Antes de assumir a presidência em 2002, Lula já havia demonstrado apoio a Chávez, negociando com o então presidente Fernando Henrique Cardoso o envio de combustível à Venezuela durante uma greve petroleira. Após um golpe que afastou Chávez brevemente do poder, Lula propôs a criação do grupo "Amigos da Venezuela" para dialogar com a oposição venezuelana. Durante seus mandatos, Lula e Chávez estabeleceram uma parceria estratégica, culminando em projetos como a refinaria Abreu e Lima e iniciativas de integração regional como a Unasul e a Celac.
Após a morte de Chávez em 2013, Nicolás Maduro, com apoio de Lula, assumiu a presidência da Venezuela. Lula é visto por Maduro como uma figura paternal do chavismo. Recentemente, Lula continua a apoiar a integração latino-americana, embora a Venezuela tenha sido suspensa do Mercosul em 2017 por violações democráticas.
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