Dr. Marcello Danucalov é doutor em ciências (psicobiologia); Mestre em farmacologia; Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar.
Muitas pessoas costumam fazer uso da palavra ética sem saber que, com o passar dos anos, seu significado sofreu profundas mudanças.
Atualmente, a ética pode ser definida como um sistema de normas e condutas necessárias para a boa convivência.
Isso faz com que muitas pessoas acreditem que, fazendo o mínimo necessário para não ferir regras previamente pactuadas, estejam agindo de maneira ética. Isso não só é um erro, como tem ajudado a transformar as novas gerações em um exército de medíocres.
Com certeza, esta crença pós-moderna faria com que os gregos da antiguidade gargalhassem de nós.
A ética na Grécia antiga – um dos berços de nossa civilização – tinha um significado muito mais sofisticado do que um mero apanhado de normas de convivência. Isso já pode ser apreciado no período pré-filosófico, quando analisamos alguns dos mitos gregos nas obras dos poetas Homero, Hesíodo e outros tantos autores clássicos.
Ao estudar seus escritos, como a Ilíada, a Odisseia e a Teogonia, compreendemos que o homem da antiguidade grega era convicto da existência de uma harmonia cósmica.
O universo era um lugar onde reinava a ordem e o equilíbrio, e onde todas as coisas tinham uma função específica, inclusive o homem. Caberia a ele descobrir sua vocação e trabalhar no sentido de aprimorá-la até a excelência.
Aqueles que conseguiam eram chamados de virtuosos e estavam em conformidade com a ordem cósmica, com a verdade, o bem e o belo.
Aristóteles chegou a afirmar que a virtude era uma segunda natureza do homem, mas, diferente da primeira, precisava ser conquistada.
A ética era o esforço destinado ao alcance da aretê. O termo aretê pode ser traduzido como virtude ou excelência; um conceito de louvor inicialmente atribuído aos melhores guerreiros e, posteriormente, estendido a todas as atividades humanas.
A aretê poderia ser atingida não somente pelo melhor guerreiro, mas também pelo melhor ferreiro; o melhor poeta; o melhor político e assim sucessivamente. Mas isso pressupunha um enorme esforço despendido em busca da referida excelência.
Se na pós-modernidade impera a ética do mínimo esforço, na antiguidade o significado era diametralmente oposto.
Os gregos não eram ingênuos a ponto de adotar crenças politicamente corretas como as que atualmente são defendidas por psicólogos e psicopedagogos contaminados pelos frágeis e infantilizados pressupostos da Nova Ordem Mundial.
Tais conjecturas invertem radicalmente os valores que outrora foram perseguidos pela civilização ocidental e que ajudaram a forjar homens fortes.
Com suas práticas diárias e com o apoio da cultura progressista, profissionais da "educação" e do comportamento humano, geralmente munidos de uma fala mansa e sedutora, conquistaram a simpatia de muitas famílias que, hipnotizadas por essas bobagens, corroboram diariamente com o enfraquecimento de seus filhos e com o progressivo processo de emburrecimento do pouco que restou da civilização ocidental. A aretê tornou-se um conceito démodé.
Que tal analisarmos algumas das tolices que são entoadas repetidamente e que servem como mantras destinados à corrupção coletiva dos jovens?
Afirmação enfraquecedora: Filho, você é especial.
Afirmação fortalecedora: Filho, você é especial para mim. Mas para o mundo lá fora precisará se esforçar um pouco mais. Precisa buscar ser um homem virtuoso.
Afirmação enfraquecedora: Filho, nada é impossível. Basta você querer.
Afirmação fortalecedora: Filho, investigue bem os seus talentos, pois, como toda a humanidade, você nasceu com poucos e precisará testá-los e praticá-los até a exaustão se quiser se destacar da massa.
Afirmação enfraquecedora: Filho, ninguém é melhor que ninguém.
Afirmação fortalecedora: Filho, a humanidade é composta por 99% de pessoas medíocres e 1% de gênios e virtuosos. Se quiser tomar parte do último grupo, prepare-se para suar muito, trabalhar com empenho e dedicação e dormir pouco, bem pouco.
Afirmação enfraquecedora: Filho, você pode ser o que você quiser na vida.
Afirmação fortalecedora: Filho, o mundo tem limites intransponíveis. Reconcilie-se com a realidade e deixe de se comportar como um garoto mimado.
Afirmação enfraquecedora: Filho, jogue seus problemas para o universo que ele conspirará a seu favor.
Afirmação fortalecedora: Filho, no universo só tem pedra voando. Responsabilize-se pelos seus problemas. Ore, trabalhe, sirva os outros e ame verdadeiramente.
Resumindo, chegamos às seguintes definições:
Ética pós-moderna: O mínimo que eu devo fazer para passar desapercebido e levar minha vidinha medíocre e regada de prazeres sem que ninguém me atormente.
Ética grega: O máximo que eu devo fazer para atingir a excelência humana e ser agraciado com a aretê, o louvor aos melhores.
Aretê: Comportamento ou qualidade que é própria da pessoa e que foi levado ao seu grau máximo. Sinônimo de virtude ou mesmo excelência.
Virtude: Conformidade com a ordem cósmica, o bem, o belo e o verdadeiro. Conformidade com a excelência teórica, prática e moral.
Com o passar do tempo alguns homens começam a transcender os mitos e desenvolvem uma nova forma de pensar que ficou conhecida como filosofia.
Sócrates, Platão e Aristóteles deram continuidade ao estudo das virtudes humanas, afirmando que estas não são somente o estado final a ser conquistado pelo homem, como também as ferramentas comportamentais e morais que facilitarão o alcance deste ideal.
Logo, se quisermos ser pessoas virtuosas, é imperativo compreender o que esses pensadores nos legaram, e, para todo pai que almeja educar seus filhos para uma vida de excelência, o conhecimento deste ferramental é imprescindível.
Em meu próximo artigo nos aprofundaremos um pouco mais neste assunto, até lá.
Doutor em Ciências (psicobiologia);
Mestre em Farmacologia;
Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar