Mariana Goelzer é escritora e roteirista. Mantém uma coluna sem fórmulas pré-concebidas, nem ideias pré-formatadas, criando um um local de reflexão livre, mas comprometida, sobre pensamentos que careciam do devido tempo e espaço para florescer.
Certamente não podemos atribuir essa incongruência - de não conseguir transformar a habilidade criativa em fonte suficiente de sustentação - a uma única variável, mas há um aspecto que me parece inexplorado e em cuja origem também assentam outros problemas de nossa sociedade. Acredito piamente que parte considerável dessa disparidade habita precisamente, e de um modo um tanto irônico, na falta de imaginação.
Por todos os cantos e lados, durante décadas, fomos seduzidos pela ideia de que o caminho para realização profissional era unívoco, e estava localizado dentro das instituições universitárias. Convencidos pela eficiência do modelo, os jovens lotaram as cátedras, tornando-as, neste processo, um mero degrau incontornável rumo à ascensão no mercado de trabalho. Perderam os jovens, perderam as universidades, mas o fracasso da empreitada não deu fim à ilusória fórmula.
Talvez - e aqui vai a explicação de minha posição - por que nossos jovens não consigam imaginar outras alternativas. Incapazes de conceber um plano de crescimento diferente daquele que foi reiteradamente propagado, se veem impelidos a aderir a um projeto de cujo esboço não fizeram parte.
A imaginação não é a promessa de chegada ao destino, mas é seu ponto de partida inevitável.
Para construir uma nova realidade, precisamos antes imaginá-la. Mas se não nutrimos essa capacidade, vemo-nos tentados a acatar as vias que nos empurram, afastando também, nesse meneio afirmativo, a possibilidade de expressar o particular potencial em nós guardado.
E assim vamos assistindo a talentos desperdiçados, a trajetórias corrompidas, a futuros sendo usurpados, não por uma impossibilidade, mas pelo simples fato de que a essas pessoas não foi dado imaginar a persecução de uma outra vida.