Gilbert Keith Chesterton foi um grande escritor inglês do final do século XIX e início do século XX. Tornou-se ainda vivo um popular ensaísta, frasista, romancista, contista, dramaturgo, jornalista, palestrante, biógrafo e crítico. Convertido do anglicanismo ao catolicismo, é também considerado filósofo e teólogo pela profundidade de suas reflexões sobre a fé e o mundo moderno.
Escreveu nos mais variados estilos de texto, indo da fantasia e dos contos que inspiraram a criação do famoso Sherlock Holmes à tratados de filosofia e teologia. Criou uma teoria econômica não socialista e não capitalista, chamada distributismo (ou distributivismo). E existe até oração que pede por sua canonização.
Seu trabalho alcançou todo o mundo e rendeu-lhe elogios de intelectuais das mais distintas filiações políticas, desde socialistas à apologistas católicos. A quantidade de escritos que deixou é espantosa, considerando sua idade. Conheça sua vida e obra.
No dia 29 de maio de 1874, em Kensington, Londres, nasceu Gilbert Keith Chesterton. Seus pais se chamavam Edward Chesterton e Marie Louise Keith. Além de Gilbert, o casal teve outros dois filhos: Beatrice e Cecil.
Chesterton teve Cecil como grande companheiro em toda sua vida. Com ele travou calorosos debates ao longo da infância e juventude. Já sua pequena irmã, Beatrice, faleceu com apenas 8 anos de idade.
Apesar de ser conhecido por possuir uma inteligência incomum, Chesterton não foi um bom aluno. Estudou no Saint Paul’s College e certa vez um professor lhe disse: “Sabe de uma coisa, Chesterton? Se pudéssemos abrir sua cabeça, não encontraríamos o cérebro, e sim um pedaço de manteiga”. PEARCE, Joseph. G.K.Chesterton: sabidúria e inocencia. Madrid: Encuentro. 2009. p. 34.
O professor não sabia que aquele jovem que se sentava na última fila tinha miopia e enxergava com dificuldade. Mesmo com as críticas que recebeu durante o período escolar, Chesterton mostrou-se fortemente inclinado às letras.
No dia 01 de julho de 1890, com seus amigos Bentley e Lucien Oldershaw, criou o Junior Debating Club, um grupo para estudar e debater literatura.
O grupo rapidamente tomou forma e chegou à marca de 10 membros. Em seguida, criaram a revista The Debater, que teve dezoito números publicados. Em cada edição foram impressos cerca de 60 a 100 exemplares.
Em 1892, já iniciando sua carreira no mundo literário, Chesterton escreveu um poema sobre São Francisco Xavier. A obra lhe rendeu diversos elogios e o prêmio Milton.
Frasista genial, Chesterton criava frases paradoxais que expressavam a profundidade de sua compreensão do mundo.
Em 1893, iniciou um curso de arte no Slade School of Art, mas rapidamente desistiu. Em certo conto, Chesterton revela as motivações de sua saída:
“Estudante de uma escola de arte ou faz um monte de trabalho ou não faz então coisa alguma. Eu pertencia, com os outros simpáticos companheiros, ao segundo grupo; e isto me arrastava algumas vezes para a companhia de pessoas que eram muito diferentes de mim, mas que eram ociosas por motivos outros”.
Ainda na adolescência passou por um processo de conversão religiosa.
Sua adolescência foi marcada pelo agnosticismo: “Eu era pagão aos doze anos de idade e um perfeito agnóstico aos dezesseis”.
Chesterton escreveu ainda em sua autobiografia:
“Não me orgulho de crer no demônio, ou melhor dito, não estou orgulhoso de conhecer o demônio. Conheci-o por minha própria culpa; seguia por um caminho que, se houvesse persistido nele, poderia ter me conduzido à adoração do demônio ou o demônio sabe a quê”.
Chesterton foi criado em berço anglicano, mas está na lista dos que se converteram ao catolicismo por meio do movimento anglo-católico. John Henry Newman e Henry Edward Manning são outros importantes nomes que viveram esse mesmo processo.
Chesterton converteu-se no ano de 1922. Enfrentou no processo a resistência de sua esposa Frances Blogg. Ela também era anglicana, mas abraçou o catolicismo, em 1926.
Chesterton, em uma carta endereçada à sua mãe, referiu-se assim a Frances: “É, com certeza, o tipo de mulher que lhe agrada, que se pode chamar de, segundo creio, ‘mulher das mulheres’, com bom humor, pouca lógica e muita simpatia, e não está contaminada por nenhum excesso ofensivo de saúde física”.
Frances, assim como Chesterton, trabalhava com as letras.
Chesterton trabalhava como jornalista e literato, escrevendo artigos, colunas e livros. Seus textos eram constantemente requisitados. Desorganizado e esquecido por natureza, G. K. Chesterton contratou uma secretária para auxiliá-lo em suas atividades.
Em 1926, contrataram a senhorita Dorothy Collins, que tinha 32 anos de idade e 9 anos de experiência no ramo. Dorothy sabia taquigrafia e digitava na máquina com velocidade. Sua ajuda contribuiu bastante para o trabalho de Chesterton.
Chesterton escreveu sobre Dorothy: “Fazia-se de secretária, chofer, guia, filósofa e, sobretudo, de amiga”. Ela acompanhou os Chestertons a vida toda. O carinho que eles nutriam por ela era tão grande, que eles a consideravam uma filha.
Frances e Gilbert Keith não tiveram filhos, mas apadrinharam algumas crianças e sustentaram seus estudos.
Como pagavam algumas mensalidades de escolas e sustentavam os gastos da revista de Chesterton, o G. K. Weekly, o casal vivia com as contas apertadas.
Um dos biógrafos de Chesterton narra que os famosos contos do Padre Brown que escreveu se deviam à pressão econômica de pagar as contas.
Chesterton escrevia e publicava em jornais, como:
Foi em 1926 que Chesterton e seu irmão fundaram a revista G. K. Weekly. Contava com artigos de várias temáticas, mas o preferido de Chesterton era o distributismo, corrente econômica que ele teorizara.
Neste periódico, George Orwell, o escritor de A Revolução dos Bichos (1945) e 1984 (1949), publicou seu primeiro artigo, em 1928.
Chesterton ganhou destaque como intelectual na Inglaterra e em outros países. Seu talento literário foi reconhecido. Ao longo da vida, escreveu mais de:
As conferências ocorreram inclusive no exterior: Estados Unidos, Itália, Palestina, Canadá e Polônia foram países que receberam o escritor.
Suas obras de maior destaque foram:
Em sua segunda ida a Roma, foi recepcionado pelo Papa Pio XI. Sua secretária comentou que Chesterton havia ficado tão impressionado com a recepção que o papa lhe fizera, que nada fez nos dias posteriores.
Chesterton ficou profundamente marcado com aquela viagem. A partir dessa experiência escreveu o livro The Resurrection of Rome, em 1930.
Era um polemista nato, mas sempre respeitoso e afetuoso com seus adversários. Tinha um humor elegante e refinado, e suas piadas causavam grandes gargalhadas na plateia.
Travou discussões com diversos intelectuais de sua época, como: Bernard Shaw, H. G. Wels e G. S. Street. Fez também amizades com outros pensadores de seu tempo, como Hilaire Belloc, a quem muito estimava.
Chesterton escreveu a respeito de vários assuntos e em diversos gêneros literários. De poesias a livros que podem ser considerados tratados de filosofia e teologia. Escreveu contos policiais, ensaios e crítica literária.
Discorria facilmente sobre temas que iam desde a instituição da família e o homem das cavernas até o pensamento de Santo Tomás de Aquino. Sua erudição e versatilidade para tratar sobre diferentes temas com profundidade, é característica de sua mente genial.
Chesterton apresentava seus argumentos a partir da lógica e recorria a paradoxos e ao humor para expor seus pensamentos.
Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas: francês, alemão, holandês, checo, polaco, espanhol, italiano, russo e hebreu.
Uma de suas obras mais importantes é Ortodoxia, publicada em 1908. Nesse livro-resposta, Chesterton rebate a crítica de G. S. Street, que o havia desafiado a expor “sua filosofia”.
Chesterton foi admirado e elogiado por vários escritores, políticos e religiosos de seu tempo. Como: Étienne Gilson, Antonio Gramsci, T. S. Elliot, C. S. Lewis, Bernard Shaw, Hilaire Belloc, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Gilberto Freyre.
O brasileiro Gustavo Corção dedicou ao pensador inglês o livro Três Alqueires e uma vaca (1946) onde expõe o pensamento do genial escritor.
Uma de suas obras mais famosas é fruto de uma grande amizade de Chesterton.
Para criar seu policial detetive, Chesterton se baseou num personagem real, o sacerdote John O’Connor, de quem era grande amigo. O padre era de origem irlandesa e estava alocado na Igreja de St. Anne de Keighley, em Yorkshire. Chesterton estava de férias em Yorkshire quando se conheceram.
Depois de escutar dois estudantes de Cambridge, que comentavam que os padres nada saberiam sobre o mal no mundo porque ficam fechados no claustro, Chesterton se inspirou para criar o famoso sacerdote-detetive.
Segundo Chesterton, a experiência sacerdotal, através da confissão, permite aos sacerdotes conhecerem o lado mais obscuro da natureza humana.
Assim, escreveu e publicou uma série de contos. O primeiro conto escrito foi A Cruz Azul (1911), publicado junto com outros contos no livro A inocência do Pe. Brown. Nesse conto, Chesterton relata como o Padre Brown desvenda o crime depois de o criminoso Flambeau ter atacado a razão.
“O pequenino Padre não era interessante de ser contemplado: tinha a cabeleira castanha arrepiada e o rosto arredondado e sem expressão”.
“Silencioso, era um homenzinho curiosamente simpático”.
Além de contos policiais, Chesterton elaborou uma nova doutrina econômica, uma terceira via ao capitalismo e ao socialismo.
Junto de seu amigo Hillaire Belloc, Chesterton criou uma teoria econômica baseada nos princípios evangélicos e nos ensinamentos papais, especialmente na encíclica do Papa Leão XIII, a Rerum novarum.
No dia 17 de setembro de 1926, Chesterton e Belloc criaram a Liga Distributista. Essa liga tinha como objetivo “restaurar a propriedade”, segundo pronunciou Chesterton no discurso inaugural. O distributismo propõe o direito à propriedade privada.
Chesterton foi eleito o primeiro presidente da Liga. Ele escreveu uma série de artigos no G. K.’s Weekly, os quais foram compilados no livro The Outline of Sanity (1926).
Escritor de estatura e mente robusta, batalhou contra problemas graves de saúde.
Capitalismo, socialismo ou distributismo possuem vertentes econômicas que influenciam diretamente na forma como a sociedade se organiza e produz seus bens.
Compreender cada uma dessas correntes, as ideias e teorias por trás de tudo é uma forma de nos posicionarmos de maneira mais segura no mundo.
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Em 1914, Chesterton ficou gravemente doente. Durante uma conferência, passou mal e teve de ser levado para sua casa. Ao chegar, deitou repentinamente sobre a cama, que quebrou.
Frances ficou preocupada e rapidamente a imprensa relatou o ocorrido. Apesar de não se saber ao certo a origem da doença, os efeitos eram graves. Chesterton ficou vários dias sem consciência.
Chesterton recobrou a saúde na véspera da Páscoa do mesmo ano. Outro duro golpe para Chesterton foi a morte de seu irmão Cecil, ocorrida no dia 6 de dezembro de 1918.
Cecil havia sido um inseparável amigo de Chesterton. Ele morreu em combate na 1º Guerra Mundial.
O escritor católico, profundamente magoado, dedicou um poema a seu irmão em que dizia que os que lutaram verdadeiramente pela Inglaterra tinham as tumbas muito longe, mas aqueles que governam a Inglaterra, todavia, não possuem tumba alguma.
Chesterton faleceu aos 62 anos, no dia 14 de junho de 1936, em sua casa, localizada na cidade de Beaconsfield, em Buckinghamshire, Inglaterra.
Foi um gigante de 1,93 metros de altura e pesava uns 140 quilos. Tinha um coração pequeno, incapaz de bombear sangue para todo seu corpo. Faleceu em sua casa após ter recebido o sacramento da unção dos enfermos.
Frances, numa carta ao Pe. John O’Connor, assim se expressou:
“Nosso adorado Gilbert faleceu nesta manhã às 10h20min. Esteve inconsciente durante algum tempo, mas recebeu os últimos sacramentos e a extrema unção quando ainda tinha consciência”.
Chesterton morreu no domingo dentro da oitava de Corpus Christi, festividade na qual havia sido batizado 14 anos antes.
O Papa Pio XI, através do Cardeal Eugenio Pacelli — futuro Pio XII —, escreveu por meio de um telegrama:
“O Santo Padre está profundamente consternado com a morte de Gilbert Keith Chesterton, devoto filho da Santa Igreja, dotado defensor da fé católica. Sua Santidade oferece paternais condolências ao povo da Inglaterra, promete orações pelo falecido amigo e outorga sua Bênção Apostólica”.
Chesterton recebeu o título de Fidei Defensor, que havia sido concedido por Leão X ao rei Henrique VIII antes de ele rebelar-se contra a Igreja.
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