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Distopia - entenda o que é esse gênero literário e seu sentido filosófico mais profundo

Literatura
Sociologia
Cultura
o que é distopia?
-
Redação Brasil Paralelo

Distopia é um termo que se tornou famoso no mundo literário e no cinema. Filmes e livros como 1984, Exterminador do Futuro e Jogos Vorazes disseminaram o gênero narrativo pelo mundo afora.

Entenda o que é distopia, como surgiu e quais são alguns dos principais significados por trás dessas histórias.

O que você vai encontrar neste artigo?

O que é distopia

Distopia é o gênero literário que retrata uma sociedade autoritária com condições precárias de vida, uma sociedade que deu errado no nível máximo possível. O termo “distopia” tem origem na língua grega antiga, significando “lugar ruim”, em sua forma literal.

As distopias ganharam força especialmente após o século XX, quando diversos governos passaram a utilizar as novas tecnologias como meio de controle da população. Muitas obras sobre mundos distópicos ficaram famosas, por exemplo:

  • 1984;
  • Admirável Mundo Novo;
  • Conto Sobre o Anticristo;
  • Exterminador do Futuro;
  • Eu Robô;
  • Jogos Vorazes;
  • Black Mirror;
  • Cyberpunk 2077.

Tipos de distopia

Cada uma das obras acima apresenta um tipo de distopia. Existem distopias de vários gêneros, alguns deles são:

  • governos autoritários;
  • holocausto nuclear;
  • fim dos recursos naturais;
  • aliens ou monstros invasores;
  • oligopólios corporativistas oprimindo a população;
  • tecnologias que ganham consciência e lutam contra os humanos.

Para entender como surgiu o conceito de distopia é necessário compreender o que é a utopia. A Distopia é, de certo modo, sua inversão.

As características de uma distopia

As principais características de uma distopia são: existência de um governo grande e autoritário; falta de liberdade, especialmente liberdade de expressão; inexistência de um livre mercado; pobreza disseminada, menos entre os líderes do grupo regente.

Principais livros, filmes e jogos

Alguns autores consagrados na literatura mundial apresentaram suas visões sobre a vida em uma sociedade distópica. Para George Orwell, viver em uma distopia é experimentar a falta de liberdade, falta de controle sobre a própria vida.

o que é uma distopia?
Cena de uma das adaptações cinematográficas do livro 1984, de George Orwell.

As obras de Orwell surgiram após suas experiências lutando com os comunistas na Guerra Civil Espanhola. O filósofo Olavo de Carvalho explica como surgiu o movimento que baseou os escritos de Orwell sobre distopias:

"Por ocasião da Guerra Civil Espanhola, quando a violência assassina desencadeada pelo comando estalinista contra seus próprios companheiros de trincheira agiu como um toque de alerta sobre muitos esquerdistas, levando-os a compreender que o comunismo era pelo menos tão destrutivo quanto o nazismo. O pacto Ribbentropp-Molotov de agosto de 1939 completou a decepção.

Alguns mudaram de lado completamente, tornando-se conservadores. Outros, renegando toda fidelidade ao governo soviético, embora não à idéia socialista, acabaram se integrando nos partidos trabalhistas e socialdemocratas e tornando-se bons aliados dos conservadores na luta contra o comunismo, continuando a combatê-los no plano das políticas sociais.

George Orwell e o filósofo Sidney Hook são exemplos famosos. O primeiro tornou-se mesmo, com os livros Animal Farm e 1984, um dos grandes criadores da linguagem anticomunista, calculada para parodiar e implodir o jargão comunista. O segundo foi o principal organizador do Congresso pela Liberdade da Cultura, o único empreendimento sério já tentado – em 1949-50, com a ajuda da CIA – para reunir intelectuais anticomunistas e opor alguma resistência à avassaladora ofensiva cultural soviética iniciada trinta anos antes".

Aldous Huxley é outro autor importante do gênero literário distópico. Para ele, viver em uma distopia é ser manipulado para viver conforme os desejos mais animalescos do ser humano.

  • Veja resumos das obras 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo , de Aldous Huxley, consideradas por muitos como alguns dos melhores livros da história. Não deixe de assistir a aula aberta do professor Guilherme Freire sobre a obra de Aldous Huxley:

O filósofo José Ortega y Gasset, em seu livro Rebelião das Massas, descreve a mentalidade por trás das sociedades totalitárias, típicas das distopias:

“Há um fato que, para o bem ou para o mal, é o mais importante na vida atual: a ascensão das massas ao completo poder social. Como as massas, por definição, não são capazes de dirigir sua própria existência, e menos ainda de dirigir a sociedade, esse fato implica que atualmente a Europa está sofrendo a crise mais grave que pode acometer aos povos, nações e culturas. Seu nome é a rebelião das massas.

Massa é o conjunto de pessoas a que podemos denominar 'homem médio'. Massa é quem não se valoriza, que se sente como todo o mundo e que se sente bem sentindo-se idêntico aos demais (Rebelião das Massas, José Ortega y Gasset)".

Diferença entre utopia e distopia

A principal diferença entre distopia e utopia é: a distopia mostra um mundo idealmente ruim, enquanto a utopia apresenta um mundo idealmente bom.

A palavra “utopia” quer dizer “um governo ideal”, segundo a terminologia popular. Para Guilherme Freire, professor de filosofia, o conceito original não foi cunhado com esse sentido.

O termo inicialmente remete à obra de São Thomas More. Mas a utopia criticada pelas distopias não é exatamente a de More. Thomas More desejava fazer uma espécie de Atlântida em seu livro Utopia, semelhante ao que Platão criou em uma de suas críticas.

Significados por trás das distopias

Um dos possíveis significados das distopias é a busca por mostrar o que está errado na sociedade contemporânea do autor, quais são as consequências de certas ideias e políticas selecionadas pelo autor da obra distópica.

Guilherme Freire diz que nos diálogos de Platão, o autor apresentou Atlântida como uma espécie de cidade pagã ideal. Pagã não no sentido de que não é cristã, mas de que é uma cidade em que não há nenhum vislumbre das ideias divinas. Atlântida se contrapõe a Atenas Antiga.

Atenas é a cidade antiga que vislumbra o divino e, portanto, é a mais perfeita. Mas aqui Platão faz uma ironia.

Atlântida é inimiga de Atenas e, mesmo não cultuando os deuses, a cidade possui valores e uma perfeição humana. Os atlantianos têm virilidade, força de vontade, engenho e outras coisas. Um aspecto de perfeição humana.

Mas a Atenas antiga tem uma perfeição divina, porque vislumbra as ideias platônicas. Mas a Atenas nova, na qual Platão vive e a qual ele critica, está aquém da Atlântida.

Platão, com isso, está ironizando a Atenas de sua época, mostrando sua inferioridade em comparação a um inimigo. Assim, seu escrito apresenta essas três realidades distintas de cidades.

A Utopia de São Thomas More toma o mesmo caminho. Ele entende o ideal de Estado como um Estado católico, inspirado pelo monasticismo, como é exposto na obra Formação do Príncipe, de Erasmo.

More compreende a importância de alguns valores renascentistas e humanistas de seu tempo, mas ele entende que o Estado perfeito ainda seria o cristão.

More segue o mesmo caminho de Platão, valendo-se do recurso da ironia. A ilha de Utopia é inspirada em Atlântida e é uma representante do Renascimento.

Com ela, o autor queria mostrar o limite do pensamento renascentista. Existem coisas na Utopia que seriam reprováveis para a audiência da época de More. Isso é uma forma dele de mostrar que as ideias renascentistas têm um limite, porque elas não têm um elemento divino por trás.

Ao mesmo tempo, a ironia consiste em mostrar que a ilha apresentava elementos superiores ao pretenso Estado cristão da época.

São Thomas More viveu na época de Henrique VIII. Para o autor de Utopia, o Estado praticamente não vive nenhum aspecto do cristianismo. Portanto, estão aquém dos inimigos da própria sociedade.

Ou seja, a ideia de utopia é uma espécie de inversão do governo e da sociedade ideal.

Para Guilherme Freire, o conceito de utopia como governo ideal, definição do termo que se popularizou, é fruto de uma literatura mais progressista da história.

Em um período não tão diferente do de Thomas More, vão surgir aqueles que realmente acreditam que o progresso tecnológico pode sanar todos os problemas sociais. Francis Bacon, por exemplo, criou uma nova Atlântida.

Uma em que o progresso vai sanar todos os males da humanidade, o mundo será curado pelo progresso científico. A nova Atlântida de Bacon pode ser vista como uma utopia na acepção mais popular do termo, em que o progressismo da história vai acabar com os problemas.

O Papa Bento XVI afirmou que Francis Bacon é um dos pais do Progressismo. Após as obras de Bacon, várias obras utópicas progressistas começaram a surgir.

No começo do século XX surge a figura do H.G. Wells. Wells vê o socialismo, as ideias modernas e a tecnocracia como a solução definitiva para acabar com os problemas da humanidade.

  • Veja a conversa do professor Guilherme Freire com o professor Flávio Morgenstern e Paulo Kogos:

Guerra do imaginário

H.G. Wells lutava para que suas ideias fossem divulgadas pelo mundo. Em 1883, um grupo de intelectuais ingleses se reuniu e fundou a Sociedade Fabiana, um grupo que acreditava que era necessário implementar o socialismo de modo lento e gradual. Sem revoluções armadas, apenas transformando a cultura e o imaginário das pessoas. H. G. Wells era um deles.

Para transformar o pensamento é necessário dominar a linguagem. Os fundadores da sociedade sabiam que a cultura é capaz de moldar o pensamento individual.

Existe uma guerra silenciosa sendo travada no mundo há mais de 100 anos. Muitos de nós ainda não nos damos conta porque não é uma guerra combatida com armas e canhões.

Livros, filmes, músicas, toda a cultura se tornou campo para implementação do plano desses socialistas.

Chesterton, Lewis e Tolkien foram os maiores oponentes das ideias de Nietzsche, Bernard Shaw, H.G. Wells, e todos os autores que declararam a guerra silenciosa para manipular a linguagem, distorcer conceitos, criticar o cristianismo e desordenar o imaginário ocidental.

Para contar as origens dessa guerra silenciosa, a Brasil Paralelo reuniu uma tropa de pesquisadores, roteiristas e especialistas e foi para o campo de batalha para produzir o primeiro documentário brasileiro sobre os três grandes heróis que são a resistência na guerra cultural.

O resultado é o mais novo original BP: “Guerra do Imaginário – A jornada de Chesterton, Lewis e Tolkien”. Estreia dia 25 de agosto com exclusividade na Brasil Paralelo. Toque no link e saiba mais.

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