Diretamente relacionado com a Revolução do Porto, o Dia do Fico marcou a história brasileira determinando a permanência de Dom Pedro I no Brasil. Ele era português, mas não quis voltar para o próprio país. O que o levou a preferir as terras brasileiras?
As consequências deste episódio refletem inclusive no processo de Independência. Conheça e entenda o Dia do Fico.
O Dia do Fico é o momento em que Dom Pedro I decide ficar no Brasil, apesar das pressões que as Cortes Portuguesas faziam pelo seu retorno a Portugal. Correspondendo às aclamações populares, Dom Pedro I opta por se manter no Brasil e comunica sua decisão no dia 09 de janeiro de 1822.
Uma série de ocorridos desencadearam o Dia do Fico, que é um dos grandes responsáveis pela Independência do Brasil.
Na época da Proclamação da Independência, o Brasil já não era uma colônia, mas uma América portuguesa, um reino unido a Portugal. A fundação do Império marcou o fim da submissão à corte portuguesa.
Os brasileiros queriam ser independentes, conservando as províncias unificadas. As subdivisões do território brasileiro que precederam a divisão em estados foram chamadas de províncias. Foram criadas no período joanino e mantidas no Primeiro Reinado.
As mudanças que levariam à independência estavam diretamente ligadas à vinda da família real ao Brasil. Com Dom João VI e sua corte residindo no Rio de Janeiro a partir de 1808, o estado tornou-se a capital do país.
O Rio era a sede do Reino e, portanto, passou por um processo de desenvolvimento urbano e cultural: os portos foram abertos às nações amigas e o comércio também prosperou. Como capital, era o centro unificador, o local da unidade do povo português.
Foi Dom João VI que elevou o Brasil de colônia à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Mas sua presença no Brasil começou a ser um problema, especialmente a partir de 1820.
Portugal passava por um processo que suscitava os temores de uma nova Revolução Francesa.
Em 24 de agosto de 1820, teve início a Revolução Liberal do Porto. Os portugueses realizaram uma Assembleia Constituinte em Lisboa, formando cortes. Queriam reorganizar Portugal como uma monarquia constitucional, seguindo padrões semelhantes aos da Revolução Francesa.
O medo da repetição do terror e do derramamento de sangue, vistos na França, assolava os portugueses.
Foram convocados os deputados portugueses e os deputados das províncias brasileiras. Os paulistas compareceram e levaram uma constituição completa para resolver o problema do Reino do Brasil e do Reino de Portugal.
Uma das sugestões foi que a corte transitaria entre a Europa e a América. Os brasileiros justificaram que o Brasil era muito grande e precisava da presença do rei para se manter unificado. Havia a ideia de criar uma liga de nações lusitanas.
Os portugueses não aceitaram. Queriam um único poder central em Portugal. Não aceitavam nem mesmo a existência de um tribunal no Brasil, nem que houvesse unidade. O interesse deles era que as províncias fossem independentes e submetidas ao poder em Lisboa.
Basicamente, existiam duas exigências dos revolucionários:
Em Portugal, o crescimento do Brasil não era bem visto. O rei estava longe enquanto os portugueses viviam uma crise. Por isso, queriam a reversão das medidas tomadas em benefício do Brasil durante o período joanino.
Tropas portuguesas no Brasil exigiam que o rei aceitasse a Constituição que seria imposta pelas cortes e que Dom Pedro também regressasse a Portugal.
Dom João VI precisava decidir entre duas opções excludentes: ficar no Brasil ou voltar para Portugal. Ele decidiu voltar sozinho, deixando seu filho como regente, dizendo-lhe:
“Se for para perder o Brasil, que seja para ti e não para estes aventureiros”.
As elites econômicas do Brasil também viram o perigo de perder a presença do príncipe, já que, se ele partisse, o país poderia voltar a ser uma colônia.
A partir daí, um processo de Independência começou a ser elaborado, cujo líder era Dom Pedro.
Antes de partir, Dom João VI convocou eleições para eleger juntas governamentais nas principais províncias. Foi uma forma de ajudar o Reino do Brasil a manter a autonomia política diante da revolução das cortes.
Em 1º de janeiro de 1822, Dom Pedro recebeu um manifesto escrito por Bonifácio e subscrito por toda a junta paulista.
Bonifácio alertava que o governo português queria impor um sistema de escravidão ao Brasil. Disse ainda que os paulistas estavam:
“prontos a derramar a última gota do seu sangue e a sacrificar todas as suas posses para não perder o adorado príncipe”.
Os jornais da época chegaram a publicar essa carta para o conhecimento da população. Assim, a sociedade civil mobilizou-se para que D. Pedro permanecesse no Brasil.
O ambiente era de animosidade e guerra civil entre os fiéis ao príncipe e os fiéis às cortes. Frequentemente, portugueses e brasileiros entraram em combate, pois os brasileiros não queriam obedecer às cortes.
Havia pedidos de várias províncias e abaixo-assinados insistindo para que o príncipe regente permanecesse. Dom Pedro recebia cartas de líderes de províncias brasileiras para que os brasileiros não se tornassem servos de Portugal.
Bonifácio liderou a redação de um manifesto entre os paulistas que exigia a permanência do príncipe. As províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro também assinaram o manifesto.
Ao todo, foram 5.000 assinaturas clamando pela permanência de Dom Pedro. A população do Rio de Janeiro da época, capital brasileira, não passava de 60.000 habitantes. Foi o maior abaixo-assinado solicitando o fico de Dom Pedro I.
Leopoldina, esposa de Dom Pedro, estava também contra as cortes portuguesas. Em suas cartas, demonstrava ser favorável à Independência e que queria ser a imperatriz do Brasil.
Tanto José Bonifácio quanto Leopoldina desejavam a permanência de Pedro no Brasil. Ambos acreditavam que, se o príncipe retornasse a Lisboa, o país não seria capaz de resistir ao furor revolucionário.
Uma das estratégias de Leopoldina era dizer que não poderia retornar a Portugal porque estava grávida.
As ameaças das cortes a Dom Pedro eram frequentes, e o príncipe oscilava entre as escolhas. A questão tornou-se irremediável quando as cortes dissolveram o governo brasileiro e ordenaram, mais uma vez, o retorno do regente.
Em meio a tudo isso, não era mais possível adiar uma decisão. Ele precisava decidir se iria ou não ficar.
No dia 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I, do Paço Imperial no Rio de Janeiro, dirigiu-se ao público para proclamar sua permanência no país, no que ficou conhecido como “Dia do Fico”. Foi um forte símbolo que representava que o Brasil já não era mais de Portugal.
Dom Pedro I, na varanda do paço, diante da multidão que clamava pela permanência, anunciou seu fico e correspondeu às expectativas do povo.
No momento em que Dom Pedro resolveu romper com Portugal, ele sentia-se já brasileiro. Enquanto isso, Portugal desejava retroceder os avanços da terra do regente.
O apoio popular foi crucial para o Dia do Fico e para os eventos subsequentes.
Ainda não era o momento da separação oficial e total. Uma reconciliação era ainda vislumbrada, mas os acontecimentos não permitiram a manutenção da união.
O Dia do Fico desencadeou eventos que tornaram irreversíveis a decisão de o Brasil separar-se de Portugal.
Poucos dias após o pronunciamento de Dom Pedro comunicando que permaneceria no Brasil, o Tenente-General Jorge de Avilez organizou suas tropas para dar um golpe e assumir o governo brasileiro. Ele acreditava que o príncipe era frágil.
O general português já havia tentado um golpe antes, mas depois de uma negociação com Dom Pedro, havia dado uma trégua ao príncipe.
Concentrando-se na Praia Grande, em Niterói, Avilez e suas tropas se fortificaram em um local estratégico. Percebendo a gravidade do ato, Dom Pedro reagiu enviando tropas do exército e de civis armados para combatê-lo.
Com mais uma vitória do príncipe, o general português e seus homens foram expulsos do Brasil.
Dom Pedro percebeu que precisava de aliados e nomeou Bonifácio para a Secretaria de Estado dos Negócios do Império e Estrangeiros, o que o tornou o primeiro brasileiro a ocupar um cargo ministerial.
Agora ministro, Bonifácio recomendou ao príncipe que fortalecesse os laços com as províncias e buscasse apoio para sua causa.
O Rio de Janeiro havia se declarado fiel ao príncipe e às suas decisões. Então, Dom Pedro partiu com sua comitiva para Minas Gerais.
Antes de continuar a viagem, ele deveria nomear um substituto para ocupar a regência. Decretou assim que sua esposa, a Princesa Leopoldina, governaria em seu lugar. Pela primeira vez no Brasil, uma mulher comandou o país.
Ela governou antes mesmo de que o Brasil se tornasse verdadeiramente independente.
Dom Pedro continuava ganhando apoio da população rural e os fazendeiros saudavam o príncipe e sua comitiva por onde passavam. Ele estava viajando pelas províncias quando as mais novas reivindicações das cortes de Lisboa chegaram ao Brasil.
O Príncipe Dom Pedro havia sido rebaixado a delegado temporário. Os novos representantes do governo brasileiro seriam eleitos em Lisboa. As leis criadas no Brasil não seriam mais aceitas e quem desobedecesse estaria afrontando Portugal.
José Bonifácio concluiu que havia esgotado as possibilidades de conciliação. Ele considerou inevitável que o destino do Brasil envolvesse a ruptura com a coroa portuguesa.
Ele então enviou um mensageiro para entregar a Dom Pedro a carta que o informava da decisão pela Independência, que ele e Leopoldina haviam arquitetado no Conselho.
Tendo recebido a carta, Dom Pedro arrancou a braçadeira azul e branca que simbolizava Portugal e atirou-a no chão dizendo:
“Tirem suas braçadeiras, soldados! Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!”
O príncipe desembainhou sua espada, no que foi seguido pelos militares; os paisanos tiraram o chapéu, e Dom Pedro disse:
“Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil! Brasileiros! A nossa divisa de hoje em diante será – INDEPENDÊNCIA OU MORTE!”
A famosa frase supostamente pronunciada por Dom Pedro no Dia do Fico é a seguinte:
“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.
Porém, segundo o escritor e especialista no assunto Paulo Rezzutti, Dom Pedro não teria dito esta frase diante do povo. Ela é uma construção posterior da memória do evento.
Comente e compartilhe. Quem você acha que vai gostar de ler sobre o Dia do Fico?
A Brasil Paralelo é uma empresa independente. Conheça nossas produções gratuitas. Todas foram feitas para resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP